Mau uso de luvas.

MAO USO DE LUVAS

16/10/2018 “REVISTA PONTOS DE VISTA"
SPUR SOLUTIONS única na Europa com certificado “First Touch” 

Existe um elevado risco para a saúde pública através do mau uso de luvas. A higiene das mãos, o uso de luvas e a sua correta manipulação estão intimamente correlacionadas, seja na prática clínica nos serviços de saúde, seja-o, ainda, na área da estética e alimentar, com a prevenção da contaminação microbiológica que pode comprometer seriamente a Saúde Pública. Ainda que a embalagem não seja perfeita, a regular e devida manipulação implica manter as luvas na caixa original até ao seu uso e concomitantemente, o seu descarte deverá ser efetuado em recipientes apropriados após cada atendimento ou procedimento, impondo-se a sua substituição sempre que exista mudança de tarefas ou de paciente/cliente, obstando (ou pelo menos, minimizando), a propagação de agentes patogénicos, com a decorrente segurança e bem-estar das partes. Urge esclarecer que a penetração dos agentes de risco, na sua grande maioria, aumenta com o decréscimo da espessura da luva, visto que, há um aumento da respetiva porosidade, ao que acresce como fatores de risco a composição química do material, o tempo de exposição e concentração de determinado agente na solução de contato, tudo fatores que influenciam a velocidade de penetração. Igualmente, o calor e a abrasão afetam negativamente e gradativamente a performance e eficácia da luva enquanto agente de proteção. Realça-se que é durante o uso que pode ocorrer a quebra da integridade de barreira. Quanto mais abrasiva ou stressante for a atividade ou quanto maior o tempo de utilização, maior a taxa de falha. E o uso de um tamanho de luva inadequado potencia esta quebra de integridade. A minha experiência na área da saúde permitiu perceber, que infelizmente, existe um elevado risco para a saúde pública através do mau uso, da ausência de conhecimento técnico do produto e do seu ciclo de vida inerente às operações de aplicação específica, pelo que, recomendo um olhar mais atento sobre estes produtos. Porquê a necessidade de reforçar a inspecção no fabrico e utilização de luvas descartáveis? As luvas cirúrgicas (luva estéril) e luvas para procedimentos não-cirúrgicos (luva não estéril), nacionais ou importadas, são classificadas como dispositivos médicos de “uso único” pelo que nunca devem ser reutilizadas e devem respeitar as normas nacionais. Estes EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) devem ter o CDM (Código de Dispositivo Médico) bem como o Certificado de Dispositivo Médico do Fabricante que são expedidos pelo órgão nacional competente em matéria de segurança em saúde_ INFARMED. A regulação em saúde vem tomando espaço no controlo da entrada no mercado de diversos dispositivos médicos por se configurar como uma importante ferramenta para transpor desafios de segurança pública, no entanto, escapam a esta primeira barreira muitos artigos que contactam com o Ser Humano, direta ou indiretamente, potencialmente perigosos, tanto em termos de saúde como em termos ambientais. A heterogeneidade regulamentar e a diferente capacidade organizativa e inspectiva entre países produtores e países utilizadores também dificulta este controlo, pelo que sou da opinião de que os gestores, os utilizadores e o público em geral se devem manter informados, atuando juntos, exigindo qualidade e rigor nos produtos e nos requisitos de seleção e aquisição, tudo em busca da consolidação do sistema para um bom resultado das ações de atenção à saúde. Devemos ser exigentes com o controlo de produtos como as luvas de protecção individual. Uma matriz de risco-beneficio adaptada a cada caso, constitui um cuidado essencial a ter na seleção e utilização das luvas descartáveis devendo, nomeadamente, para a área da saúde, consultar-se os termos da alínea a) do nº 2 do artigo 2º do Decreto Regulamentar nº 14/2012, de 26 de Janeiro, onde a Direção-Geral da Saúde, por proposta conjunta do Departamento da Qualidade na Saúde, do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianas e da Ordem dos Médicos, verte os cuidados a ter na seleção do tipo de luvas (matéria prima de base e técnica assética), assim como as indicações clínicas. Na área da saúde e cosmética, onde o contato com a pele humana do paciente/cliente é incontornável, as contaminações e alergias assumem particular relevância e são bastante frequentes. A OMS recomenda que os serviços de saúde selecionem, preferencialmente, as luvas sem pó, tanto para fins cirúrgicos como não cirúrgicos, baseando-se em fundamentos bem mais válidos do que a comodidade ou o preço. A análise de riscos é necessária e tem, obrigatoriamente, de ultrapassar a mera análise da seleção correta do tipo da matéria-prima das luvas descartáveis e das suas especificações, visto que, muitas das luvas que circulam no mercado não são alvo de controlos apertados de qualidade. Existe necessidade de educar o mercado por via auditorias inspetivas ao processo produtivo de fabricantes de luvas cujas unidades produtivas não estão sediadas em território nacional (desconhecendo-se as instalações ou condições do seu processo de fabricação e embalamento), ou ainda, pela incidência de um controlo por amostragem, que vise a análise do produto em circulação, controlo este menos exigente que a inspeção mas que, sendo feito com frequência, permite distinguir os fornecedores que operam no mercado nacional e que estão genuinamente preocupados com a segurança de contaminação de microrganismos patogénicos ou agentes químicos nocivos, tanto para pacientes como para os próprios utilizadores . Devemos observar outros mercados para percebermos, conscienciosamente, que em Portugal somos poucos exigentes quanto à qualidade das luvas, postergadas a uma banalização da sua importância enquanto fator impeditivo de propagação da crescente contaminação de microrganismos patogénicos ou agentes químicos nocivos que crescentemente se tem vindo a assistir nas unidades médico-hospitalares. A título de exemplo, saliento o mercado Americano e Canadiano onde se pode constatar a exigência legal a todos os fabricantes e distribuidores de luvas descartáveis, que ostentem o certificado “First Touch”. Este certificado garante que as luvas não tiveram qualquer contato com a pele humana em todo o processo produtivo, sendo que o primeiro contato apenas ocorre com o utilizador que extrai a luva do dispensador, mitigando assim o risco de contaminação ativa do produto. O certificado “First Touch” é já uma ferramenta utilizada por importadores portugueses de dispositivos médicos descartáveis, no entanto, constatamos a ausência de norma legal imperativa que tendo em vista a eliminação deste risco na generalidade da contratação portuguesa pública e privada, imponha uma certificação similar. Deveremos, portanto, ter cuidados acrescidos quando se trata de matérias-primas e produto acabado oriundo de países asiáticos, de onde provêm perto de 90% dos dispositivos médicos descartáveis comercializados em Portugal. Os hábitos e critérios de higienização poderão não ser tão exigentes como os padrões Europeus. Infeções da pele e tecidos moles causados por vírus, bactérias, fungos ou pequenos animais – que podem ser relativamente superficiais, como o impetigo ou atingir as camadas mais profundas da pele -, são muito comuns e por vezes altamente contagiosas. A nossa ignorância sobre os processos e condições de produção, introduz um fator aleatório que serve de véu às doenças que podem ser transmitidas por via das luvas, em especial pelas chamadas luvas de exame, não esterilizadas… Na construção de uma matriz de risco, no processo de seleção e aquisição, além da escolha da matéria-prima das luvas e das especificações, deve ser contemplado o ciclo de vida do produto, aquilo que não se vê nem se lê, tal como a interferência dos operacionais durante o processo de fabricação. Considerem cenários como feridas supurantes no braço, antebraço ou nas mãos, podendo depositar uma pequena quantidade de bactérias nocivas contaminando as demais luvas, que depois são transportadas para todos os utilizadores espalhados pelo mundo inteiro; um olho lacrimoso que o operacional esfrega manuseando posteriormente o produto acabado, o qual, numa fase subsequente será utilizado num paciente; operacionais que não higienizam as mãos nos intervalos de produção, com idas à casa de banho ou mesmo contato com materiais não higienizados potencialmente carregados com agentes nocivos e consequentemente transmitidos às luvas no embalar; operacionais infetados com algumas patologias comuns mas bastante infeciosas tais como lesões pelo vírus do herpes, HPV, impetigo, celulite infeciosa, candidíase, etc. Quanto à seleção do material da luva, as matérias-primas atualmente mais comuns utilizadas no processamento de luvas descartáveis cuja utilização se destina a profissionais da área da saúde, cosmética e nos mais diversos tipos de Industria – onde as tarefas implicam contato direto com agentes nocivos ao ser humano ou potenciais agentes patogénicos -, são o Nitrilo, o Látex e o Vinil, e o Neoprene. As luvas de borracha natural ou látex de borracha natural oferecem alto nível de proteção contra sangue e fluidos corporais potencialmente contaminados, têm grande força, elasticidade, flexibilidade e conforto. Devido a isto, o látex de borracha natural (particularmente o látex de baixa-proteína) é o material de escolha para luvas quando se lida com sangue e fluidos corporais, não devendo ser utilizadas no contato com óleos ou químicos orgânicos e corrosivos. A desvantagem deste material reside no fato de que alguns profissionais e pacientes desenvolverem sensibilidade e poderem apresentar reações alérgicas de gravidade mediana a grave, após o uso de luvas de látex. A borracha não-natural fabricada a partir de um derivado do petróleo _ borracha nitrílica _ pode ser utilizada como uma alternativa ao látex, sendo igualmente indicadas no uso de agentes químicos, atento o fato de patentearem uma espessura mais elevada, mas são menos flexíveis do que as luvas de látex. As propriedades de barreira são definidas pelo fabricante e devem estar descritas nas especificações. Ao procurar comprar luvas de nitrilo, é importante obter os dados dos testes químicos do fabricante para as suas luvas, o que permitirá ao utilizador aferir se a luva que irá utilizar resiste aos produtos químicos com os quais vai manusear. Por exemplo, os profissionais de saúde que trabalham com medicamentos quimioterápicos devem garantir, que as luvas que usam resistem a esses produtos químicos agressivos. As luvas de vinil são fabricadas a partir de cloreto de polivinil (PVC), um material sintético que é menos flexível, elástico, durável e possui menos conformidade com a mão do que o látex. Por isso, este tipo de luva não deve ser utilizado para uso clínico, porquanto, o vinil tem uma maior tendência a fazer micro perfurações durante o seu uso; no entanto, a luva de vinil livre de pó, por não conter proteínas do látex, é perfeita para o serviço de alimentos. É importante salientar que tanto as luvas com látex, como as demais cuja composição o não contemple, podem desencadear dermatites de contato e hipersensibilidade tipo IV nos usuários de luvas. O uso apropriado de luvas depende da definição clara das responsabilidades individuais e organizacionais, considerando a sua composição e o produto a ser manipulado. Por fim é importante que os gestores estejam cientes das condições de armazenamento das luvas, as quais, podem comprometer as suas propriedades físicas e consequentemente a segurança. Evitar situações em que a sua armazenagem não é segura ou apresenta condições inadequadas de temperatura e ambiente, controlar stocks, prazos de validade e fluxos para os serviços que as utilizam é uma função de gestão.

Verónica Gaspar LER NOTÍCIA NA FONTE: https://pontosdevista.pt/2018/10/16/existe-um-elevado-risco-saude-public...